Dermatologia na Pele Negra: Entenda as Particularidades, Desafios e Cuidados

pele negra

A dermatologia tradicionalmente descreve as manifestações cutâneas com base em pacientes de pele clara. No entanto, compreender as particularidades da pele negra é essencial para diagnósticos e tratamentos mais precisos. Neste artigo, você verá um resumo dos principais pontos do estudo “Dermatologia na Pele Negra”, publicado pelos especialistas Mauricio Mota de Avelar Alchorne e Marilda Aparecida Milanez Morgado de Abreu​.

1. Entendendo Raça, Etnia e a Classificação da Pele

Antes de mais nada, é importante destacar que, do ponto de vista biológico, raças humanas não existem: somos todos Homo sapiens. Entretanto, o termo “raça” persiste como uma construção social para designar diferenças morfológicas.

No Brasil, a cor da pele, mais do que a ancestralidade, define a identidade étnica. Conforme dados do IBGE, a população negra (pretos e pardos) representa cerca de 49,5% da população nacional​.

Consequentemente, a diversidade de tons e características anatômicas torna ainda mais essencial que os dermatologistas estejam atentos às nuances da pele negra.


2. Como a Cor da Pele é Classificada

Embora existam diversas formas de classificar a cor da pele, o sistema de Fitzpatrick é o mais utilizado na dermatologia. Esse sistema, embora originalmente pensado para peles brancas, categoriza as peles mais escuras nos fototipos IV, V e VI​.

Entretanto, seria benéfico, segundo os autores, o desenvolvimento de classificações específicas para peles pigmentadas, considerando sua maior tendência à hiperpigmentação inflamatória.


3. Estruturas e Funcionalidade da Pele Negra

A pele negra apresenta particularidades importantes em cada uma de suas camadas:

  • Epiderme: Mais melanina, com melanossomas grandes e não agregados, oferecendo proteção natural equivalente a um FPS de 13,4​.
  • Derme: Fibroblastos mais numerosos e hiperativos, favorecendo a formação de quelóides.
  • Glândulas anexas: Produzem mais secreção apócrina e sebo.
  • Cabelos: Menor número de folículos, mas fios mais espiralados e frágeis, predispostos à quebra​.

Portanto, as manifestações cutâneas precisam ser avaliadas considerando essas diferenças estruturais.


4. Alterações Fisiológicas Frequentes

Entre as principais alterações fisiológicas observadas, destacam-se:

  • Discromias: Hiperpigmentação perioral, linhas de Futcher, melanose malar e melanoniquia ungueal.
  • Leucoedema oral: Placas brancas na mucosa jugal, comum em 90% dos negros.
  • Mancha mongólica: Presente em até 90% dos neonatos​.

Essas condições, muitas vezes, são fisiológicas, mas podem ser confundidas com patologias, exigindo atenção no diagnóstico.


5. Características das Dermatoses na Pele Negra

Embora as dermatoses sejam, em geral, similares entre os diferentes grupos étnicos, na pele negra elas tendem a apresentar:

  • Reações pigmentares mais intensas (hiper ou hipopigmentação);
  • Dificuldade de reconhecimento do eritema;
  • Maior propensão a formação de quelóides​.

Em virtude disso, o diagnóstico precoce e o manejo adaptado à realidade da pele negra são cruciais.


6. Doenças Mais Relevantes na Pele Negra

Entre as dermatoses que merecem destaque estão:

6.1 Alterações Pigmentares

Melasma, vitiligo e discromias pós-inflamatórias são especialmente prevalentes e impactam fortemente a autoestima.

6.2 Acne e Suas Complicações

Embora a acne inflamatória seja menos frequente, a hiperpigmentação residual e os quelóides são consequências comuns​.

6.3 Eczemas e Dermatite Atópica

Formas liquenificadas são mais típicas, com menos vesiculação do que em indivíduos de pele clara.

6.4 Infecções e Micoses

Tinea capitis e pitiríase versicolor são frequentes e, em alguns casos, difíceis de diferenciar de outras dermatoses​.

6.5 Doenças Específicas

  • Quelóides: Até 18 vezes mais comuns na pele negra;
  • Pseudofoliculite da barba: Altamente prevalente, relacionada ao crescimento curvo do fio;
  • Úlceras da anemia falciforme: Típicas de pacientes com essa condição genética​.

7. Neoplasias Cutâneas

O câncer de pele é menos comum em negros, devido à proteção natural conferida pela melanina. Entretanto, quando ocorre, geralmente aparece em áreas não fotoexpostas e apresenta maior morbidade e mortalidade​.

Os tipos mais relevantes são:

  • Carcinoma espinocelular (CEC);
  • Carcinoma basocelular (CBC);
  • Melanoma acral (palmas, plantas e leito ungueal).

Portanto, o rastreamento e o diagnóstico precoce são indispensáveis.


8. Considerações Finais

A prática dermatológica deve reconhecer que a pele negra possui peculiaridades biológicas, estruturais e clínicas que impactam tanto a apresentação quanto a evolução das doenças.

Além disso, abordagens específicas para prevenção de hiperpigmentações, cicatrizes e discromias são fundamentais para promover um atendimento de excelência.

Por isso, é vital que profissionais de saúde ampliem seu conhecimento sobre essas particularidades, garantindo diagnóstico precoce, tratamento eficaz e melhor qualidade de vida aos pacientes de pele negra.


Referência do Artigo Resumido

Alchorne MM, de Abreu MA. Dermatologia na Pele Negra. Anais Brasileiros de Dermatologia. 2008;83(1):7–20. Disponível em: https://www.scielo.br/j/abd/a/N7XSYHgsYNptLnxw5XLtb3m/?lang=pt


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