A busca por padrões estéticos elevados tem impulsionado a procura por tratamentos dermatológicos, especialmente quando se trata da hidrolipodistrofia ginoide (HLDG), popularmente conhecida como celulite. Embora não seja considerada uma patologia médica, ela pode afetar a autoestima e gerar sérios impactos psicossociais, principalmente em mulheres. Dessa forma, o artigo científico publicado no Brazilian Journal of Development apresenta uma revisão aprofundada sobre a fisiopatologia, classificação, fatores agravantes e opções terapêuticas disponíveis para esse quadro.
📄 Artigo completo disponível em: https://doi.org/10.1590/S0365-05962011000400015
O que é Hidrolipodistrofia Ginoide?
A celulite é uma condição que altera o relevo da pele, deixando-a com aspecto de “casca de laranja”. Ainda que não represente um risco à saúde, afeta até 90% das mulheres, principalmente após a puberdade. Isso ocorre, sobretudo, porque a HLDG está ligada a características femininas, como o padrão de distribuição de gordura sob influência hormonal (estrógeno), o que a torna mais prevalente em quadris, coxas e nádegas.
Apesar do nome sugerir um processo inflamatório, estudos mostram que a celulite está mais relacionada a alterações estruturais do tecido conjuntivo subcutâneo. Além disso, a formação de nódulos e fibroses contribui para a aparência ondulada da pele.
Fatores Envolvidos na Formação da Celulite
A fisiopatologia da celulite é bastante complexa. Diversas teorias explicam sua origem, sendo as principais:
- Alterações microcirculatórias – Problemas na circulação venosa e linfática podem causar acúmulo de líquidos e toxinas.
- Desorganização da matriz extracelular – Fatores genéticos, idade, hormônios e sedentarismo podem alterar as fibras de colágeno e elastina.
- Estrutura anatômica do tecido – Mulheres possuem septos fibrosos verticais mais finos, o que facilita o extravasamento da gordura subcutânea para camadas mais superficiais.
- Influência hormonal – O estrógeno, por exemplo, pode reduzir o tônus vascular e afetar diretamente a espessura dérmica e sua elasticidade.
- Fatores genéticos e estilo de vida – Alimentação inadequada, uso de hormônios, tabagismo, sedentarismo e estresse aumentam as chances de desenvolvimento da HLDG.
Classificação Clínica da Celulite
A celulite pode ser classificada em quatro graus, conforme sua gravidade:
- Grau I (branda): alterações visíveis apenas com compressão ou contração muscular.
- Grau II (moderada): visível mesmo sem compressão, com presença de edema local.
- Grau III (grave): aspecto de casca de laranja evidente e presença de nódulos dolorosos.
- Grau IV (muito grave): nódulos grandes, dor intensa e fibrose avançada.
Essa classificação é essencial para definir o tipo de abordagem terapêutica mais adequada para cada caso.
Tratamentos Disponíveis para a Celulite
Como a celulite é uma condição multifatorial, não existe uma única solução eficaz. Pelo contrário, é necessário adotar uma abordagem integrada e interdisciplinar. Os tratamentos são divididos em não invasivos e minimamente invasivos, e, em muitos casos, sua combinação oferece os melhores resultados.
Tratamentos não invasivos
Métodos indicados para casos leves a moderados e incluem:
- Massagens tópicas com ou sem ativos (como cafeína ou retinol)
- Drenagem linfática
- Luz intensa pulsada (LIP)
- LEDs e fototerapia
- Radiofrequência
- Ultrassom
- Endermologia (vacuoterapia)
- Uso de roupas compressivas com biocerâmica
Essas técnicas atuam promovendo melhora da circulação, estímulo ao colágeno e lipólise local.
Abordagens minimamente invasivas
Indicações para casos moderados a severos, e incluem:
- Subcisão – rompe os septos fibrosos que retraem a pele.
- Laserterapia – atua no estímulo dérmico e reorganização do colágeno.
- Carboxiterapia – infusão de CO₂ no tecido para estimular a oxigenação e elasticidade.
- Mesoterapia – injeção de ativos lipolíticos diretamente na derme.
Tratamentos tópicos
O uso de cosméticos com ativos como cafeína, retinoides e L-carnitina tem ganhado espaço, especialmente pela facilidade de uso. No entanto, sua eficácia depende da absorção adequada e geralmente serve como tratamento adjuvante.
Exercícios e Alimentação
A prática de atividades físicas regulares e uma dieta balanceada também exercem papel fundamental na prevenção e controle da HLDG. Exercícios ajudam na melhora da circulação, força muscular e controle do peso corporal — fatores que, indiretamente, influenciam na evolução da celulite.
Considerações Finais
A celulite, embora seja uma alteração estética comum e não represente risco clínico, pode afetar significativamente a autoestima e a saúde mental das mulheres. Por isso, é indispensável que profissionais da saúde e estética adotem uma abordagem individualizada, multidisciplinar e baseada em evidências.
Até o momento, não há um único tratamento considerado o “melhor”. Ainda assim, a associação de métodos, desde os tópicos até os mais tecnológicos, pode oferecer bons resultados. Para garantir eficácia e sobretudo segurança, é essencial que todo protocolo terapêutico seja conduzido por profissionais qualificados e com formação adequada.
Referência bibliográfica:
Hernandes, A. S. N., Santos, G. F., & Vila, M. M. D. C. (2022). Celulite: uma breve revisão. Brazilian Journal of Development, 8(1), 4201–4212. DOI: 10.34117/bjdv8n1-277