Exossomos na Dermatologia: o Essencial do Artigo-Guia Brasileiro de 2025

exossomos

Introdução

Nos últimos anos, poucas expressões despertaram tanto interesse na dermatologia regenerativa quanto “exossomos”. Essas nanovesículas de 30 – 150 nm, liberadas por quase todas as células, carregam proteínas, ácidos nucleicos, lipídios e metabólitos que funcionam, em síntese, como mensageiros celulares. Embora descritas na década de 1980, foi somente nesta década que o potencial terapêutico se tornou evidente, sobretudo para pele e anexos, graças, antes de mais nada, a estudos in vitro, modelos animais e, por fim, ensaios clínicos iniciais.

Logo, este post apresenta um resumo crítico do artigo científico “Explorando a Realidade dos Exossomos na Dermatologia”, publicado em 2025 no Anais Brasileiros de Dermatologia. Dessa forma, você conhecerá os principais achados, aplicações clínicas, limitações e, igualmente, as perspectivas futuras de forma clara e acessível.


1. O que são exossomos?

Primeiramente, exossomos origem da via endossômica: forma-se um corpo multivesicular que, posteriormente, libera vesículas contendo sinais biológicos. Além disso, por exibirem bicamada lipídica e proteínas como CD9, CD63, CD81 e HSP70/90, eles atravessam barreiras fisiológicas com baixa imunogenicidade. Consequentemente, tornam-se veículos naturais de fármacos e sinalizadores.

As fontes englobam:

  • Células humanas — queratinócitos, fibroblastos, MSC de tecido adiposo, cordão umbilical, medula óssea e plaquetas.
  • Fontes vegetais e animais — nanopartículas semelhantes a exossomos (PELNs) de gengibre, trigo, uva, cúrcuma e, ainda, fungos medicinais.

2. Isolamento e caracterização

Para começar, a ultracentrifugação ainda é o “padrão-ouro”. Entretanto, métodos complementares — ultrafiltração, imunoprecipitação, cromatografia e precipitação poliméricam também aumentam a pureza. Depois disso, microscopia eletrônica, espalhamento dinâmico de luz, citometria de fluxo e espectrometria de massa confirmam tamanho, concentração e marcadores. Mesmo assim, a heterogeneidade entre lotes permanece um gargalo metodológico e, portanto, regulatório.


3. Mecanismos de ação cutânea

Ao entregar micro-RNAs, DNA e proteínas, exossomos podem:

  1. Atenuar inflamação — visto que reduzem citocinas pró-inflamatórias;
  2. Estabelecer angiogênese — estimulam VEGF e remodelação vascular;
  3. Restaurar a matriz extracelular — impulsionam colágeno I, elastina e fibronectina;
  4. Preservar a sobrevida celular — inibem apoptose e estresse oxidativo em fibroblastos fotoenvelhecidos.

4. Aplicações clínicas investigadas

4.1 Cicatrização e tratamento de cicatrizes

  • Pré-clínico — 105 estudos demonstraram aceleração de feridas, maior colágeno e menor inflamação com MSC-exos ou UCMSC-exos, independentemente da via.
  • Modelos diabéticos — ADSC-exos favoreceram re-epitelização e angiogênese; exossomos de sangue menstrual mostraram efeito semelhante.
  • Ensaios humanos — embora uma única injeção plaquetária não acelerasse cicatrização, laser CO₂ fracionado + ADSC-exos aumentou, por sua vez, a melhora de cicatrizes de acne de 19,9 % para 32,5 %.
4.2 Rejuvenescimento
  • Fibroblastos fotoexpostos — ADSC-exos reduziram radicais livres e, simultaneamente, espessura epidérmica; colágeno dérmico cresceu.
  • Estudo split-face — microagulhamento + ADSC-exos resultou, afinal, em 28 % de melhora estética contra 14 % no controle, com ganho de elasticidade.
  • Pigmentação — aplicação tópica duas vezes ao dia diminuiu melanina; contudo, o clareamento reduziu-se após suspensão.

4.3 Regeneração capilar

  • DPC-exos — em camundongos, promoveram transição telógena → anágena e, portanto, espessaram folículos.
  • Casos clínicos — 39 pacientes com alopecia androgenética, submetidos a microagulhamento + ADSC-exos, obtiveram +24,9 fios/cm² em 12 semanas.

4.4 Neoplasias cutâneas

  • Melanoma — exossomos tumorais carregam, em síntese, miRNAs e proteínas que preparam nicho pré-metastático; no entanto, os dados ainda são in vitro.
  • Carcinoma espinocelular e micose fungoide — evidências laboratoriais sugerem modulação de transcrição e miRNAs pró-proliferação.

4.5 Doenças inflamatórias e autoimunes

  • Psoríase — UCMSC-exos reduziram IL-17 em camundongos, enquanto exossomos de pacientes em terapia biológica exibiram perfil lipídico protetor.
  • Dermatite atópica — dose subcutânea única de UCMSC-exos melhorou SCORAD; infusão IV de BMSC-exos mantinha, ademais, resposta por 38 semanas.
  • Vitiligo — exossomos de pacientes contêm anticorpos antimenanócitos; logo, são potenciais biomarcadores.

4.6 Outras indicações emergentes

  • Farmacodermias graves — miRNAs pró-inflamatórios correlacionam-se com área cutânea afetada.
  • Doença enxerto × hospedeiro crônica — quatro infusões semanais de PMSC-exos IV reduziram, em 15 dias, eczema e ulcerações.

5. Biossegurança: potencial e precauções

À primeira vista, exossomos, por serem cell-free, diminuem riscos de tumorigênese. Mesmo assim, eles podem, eventualmente, intensificar replicação viral (HIV-1/2) e modular imunidade tumoral de maneira imprevisível. Além disso, apenas poucos ensaios alogênicos realizaram triagem sorológica completa. Portanto, faltam ainda:

  • Produção padronizada em escala GMP;
  • Pureza, dosagem e via ideais;
  • Ensaios randomizados com seguimento longo.

6. Cenário regulatório e mercado brasileiro

  • EUA/UE — cosméticos com derivados humanos são, atualmente, proibidos; em 2019, o FDA publicou alerta de segurança.
  • Brasil — a ANVISA permite, contudo, exossomos de origem não humana apenas em cosméticos grau 2 (uso tópico). Embora frascos estéreis existam, a aplicação injetável permanece off-label.

Principais produtos:

  1. Inno-Exoma® — exossomos “synthetic-like”; estudos clínicos inexistem.
  2. ASCE Plus — exossomos de Rosa damascena, avaliados apenas em relato de caso pós-laser.

7. Conclusões do artigo

  1. Potencial robusto — efeitos anti-inflamatórios, pró-angiogênicos e regenerativos são promissores.
  2. Evidência humana limitada — a maioria dos dados permanece pré-clínica.
  3. Segurança é prioritária — padronização e estudos longos ainda faltam.
  4. Regulação incipiente — divergências globais geram, assim, incerteza comercial.
  5. Futuro depende de — fontes celulares ideais, GMP, regimes de dose padronizados e ensaios placebo-controlados.

8. Reflexões finais para o consultório

Em síntese, exossomos representam fronteira fértil para cicatrização, rejuvenescimento e doenças inflamatórias. Porém, a migração segura para a prática diária exigirá, antes de mais nada, ciência robusta. Portanto, avalie evidências, esclareça pacientes, documente consentimentos e, sobretudo, acompanhe ensaios fase II/III. Dessa maneira, será possível inovar sem abrir mão da segurança que seus pacientes merecem.


Referência

Dini TD, Birck MS, Rocha M, Bagatin E. Explorando a realidade dos exossomos na Dermatologia. Anais Brasileiros de Dermatologia. 2025;100(1):121-130. DOI: 10.1016/j.abd.2024.09.002.


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