Quando falamos em tratamentos para vitiligo, é natural pensarmos em opções que ofereçam boa resposta clínica e segurança. Entretanto, é essencial estar atento aos possíveis efeitos adversos, especialmente quando envolvem a fototerapia com psoralenos e exposição solar — também chamada de PUVAsol. O estudo publicado por Fernandes NC e Pina JC nos Anais Brasileiros de Dermatologia discute justamente uma complicação pouco conhecida: a leucodermia punctata, que pode surgir após esse tipo de abordagem terapêutica.
A seguir, vamos explorar os principais achados do artigo e compreender melhor por que a leucodermia punctata deve ser considerada no acompanhamento de pacientes submetidos a este tipo de tratamento.
Acesse o artigo completo aqui: https://doi.org/10.1590/S0365-05962010000400026
O que é a Leucodermia Punctata?
A leucodermia punctata é caracterizada pelo surgimento de múltiplas máculas hipopigmentadas e acrômicas, em geral de forma arredondada ou oval, com margens bem definidas. Essas lesões aparecem principalmente nas extremidades, mas também podem surgir no tronco e até mesmo na face. Seu diâmetro costuma variar entre 0,5 e 1,5 mm.
Embora possa ser confundida com outras condições como a hipomelanose gutata idiopática, a leucodermia punctata tem etiologia distinta, geralmente associada ao uso de psoralenos e à exposição à radiação ultravioleta, como relatado neste estudo.
O Estudo: Três Casos Após Tratamento com PUVAsol
O artigo relata três casos de pacientes jovens do sexo feminino, todas diagnosticadas clinicamente com vitiligo. O tratamento aplicado envolveu o uso de 8-metoxipsoraleno a 0,2% em creme Lanette, com exposição solar progressiva, técnica conhecida como PUVAsol. Notavelmente, cerca de um ano após o início da terapia, todas as pacientes apresentaram máculas acrômicas nas áreas onde o vitiligo estava previamente instalado.
Essas lesões eram puntiformes, com diâmetro de 1 a 3 mm, e distribuíam-se exatamente sobre as regiões tratadas. Em um dos casos, uma biópsia de pele foi realizada, revelando achados compatíveis com leucodermia punctata: ortoceratose, acantose regular, melanócitos com escassa pigmentação melânica e discreta incontinência pigmentar.
Diagnóstico e Diagnóstico Diferencial
Embora o diagnóstico clínico seja bastante sugestivo, a confirmação histológica é importante em casos atípicos. Conforme descrito no artigo, os achados microscópicos reforçaram o diagnóstico de leucodermia punctata e afastaram outras possibilidades, como vitiligo progressivo ou sequelas cicatriciais.
Além disso, o estudo faz uma análise comparativa com a hipomelanose gutata idiopática, condição adquirida mais comum em pacientes de pele escura. Essa condição, no entanto, tem evolução espontânea e distribuição anatômica diferente, afetando predominantemente a face anterior das pernas e com lesões mais discretas.
A Relação com o PUVAsol
Vale lembrar que o PUVAsol é uma técnica terapêutica que associa a aplicação de psoralenos (compostos fotossensibilizantes) com exposição à luz ultravioleta, seja artificial ou natural. Embora essa abordagem esteja bem estabelecida para o tratamento do vitiligo e de outras dermatoses, o estudo destaca a importância de monitorar efeitos adversos raros.
Os autores atribuem o surgimento das máculas acrômicas à fototoxicidade induzida pelo psoraleno combinado à exposição solar, o que corrobora observações feitas por Falabella et al. em 1988 e por outros autores ao longo das últimas décadas.
Abordagem Terapêutica e Conduta
Diante do surgimento da leucodermia punctata, o tratamento com PUVAsol foi suspenso em todas as pacientes. A conduta recomendada foi observação clínica, com uso de corticoides tópicos de baixa potência, embora a literatura não apresente até o momento uma abordagem terapêutica eficaz para reverter as máculas residuais.
Portanto, a conduta mais segura parece ser a prevenção, com escolha criteriosa de pacientes, orientação rigorosa sobre a exposição solar e acompanhamento dermatológico próximo durante o tratamento com psoralenos.
Considerações Finais
Este artigo traz à tona uma importante reflexão sobre os riscos potenciais do uso indiscriminado ou pouco supervisionado de terapias fotossensibilizantes. Embora o PUVAsol seja uma ferramenta útil e amplamente utilizada, a leucodermia punctata é um efeito adverso possível que pode afetar significativamente a autoestima e o prognóstico dos pacientes com vitiligo.
Além disso, o estudo contribui para o entendimento clínico e histológico dessa condição, reforçando a importância de uma abordagem personalizada e consciente na dermatologia.
A prevenção, mais uma vez, se mostra o melhor caminho: pacientes em tratamento com psoralenos devem ser rigorosamente monitorados, sobretudo crianças e adolescentes, que representam um grupo de maior vulnerabilidade aos efeitos colaterais da fototerapia.
Referência Bibliográfica
Fernandes NC, Pina JC. Leucodermia punctata após tratamento com Puvasol tópico. An Bras Dermatol. 2010;85(4):571–572.
Acesse o artigo completo: https://doi.org/10.1590/S0365-05962010000400026