A lipoaspiração é um dos procedimentos cirúrgicos mais realizados no mundo, com técnicas cada vez mais refinadas e seguras. Entretanto, além das mudanças estéticas, surge uma pergunta importante: qual é o impacto metabólico dessa cirurgia? Um estudo publicado na Revista Brasileira de Cirurgia Plástica trouxe uma análise abrangente sobre os efeitos da lipoaspiração na saúde metabólica dos pacientes.
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Introdução
Desenvolvida por Ilouz em 1979, a lipoaspiração evoluiu de pequenos procedimentos localizados para intervenções maiores, exigindo, assim, maior atenção às alterações hematológicas e metabólicas dos pacientes.
Hoje se reconhece que o tecido adiposo não é apenas um depósito de gordura, mas também um órgão endócrino ativo, relacionado à produção de hormônios e citocinas que influenciam processos inflamatórios, resistência insulínica e doenças cardiovasculares.
Assim sendo, entender o impacto da lipoaspiração vai além da estética corporal, alcançando também a saúde metabólica.
Fatores Metabólicos Analisados
O estudo revisou o impacto da lipoaspiração sobre vários marcadores metabólicos:
1. Lipídios Séricos
- LDL (colesterol ruim): Reduções variáveis após a cirurgia.
- HDL (colesterol bom): Em alguns estudos, houve aumento após lipoaspiração.
- Triglicerídeos: Resultados conflitantes; alguns estudos mostraram redução, outros não detectaram alterações significativas.
Além disso, o comportamento dos lipídios após o procedimento parece depender de fatores como volume aspirado e perfil metabólico prévio.
2. Metabolismo da Glicose
A perda de tecido adiposo poderia melhorar a resistência insulínica.
Dessa forma, alguns estudos observaram redução da glicemia e da insulinemia após a cirurgia, embora outros não tenham encontrado alterações significativas.
3. Hormônios Relacionados ao Tecido Adiposo
- Leptina: Níveis tendem a diminuir após a lipoaspiração, o que pode estar relacionado a melhor regulação do apetite e do metabolismo energético.
- Adiponectina: Sua elevação pós-cirurgia pode ter efeito anti-inflamatório e melhorar a sensibilidade à insulina.
- Resistina: Relacionada à resistência insulínica, mas o impacto da lipoaspiração ainda não está completamente elucidado.
Portanto, alterações hormonais variam de acordo com características individuais e o volume de gordura removido.
4. Citocinas Inflamatórias
- Interleucina-6 (IL-6) e TNF-alfa: Em alguns estudos, níveis dessas citocinas pró-inflamatórias diminuíram após a cirurgia, sugerindo redução da inflamação sistêmica.
- Interleucina-10 (IL-10): Aumento observado em alguns casos, indicando um possível efeito anti-inflamatório pós-lipoaspiração.
Ademais, a resposta inflamatória pode ser um indicador importante da recuperação metabólica do paciente.
5. Proteína C-Reativa (PCR)
Alguns trabalhos mostraram redução da PCR, indicando possível melhora no estado inflamatório crônico dos pacientes submetidos à cirurgia.
Ainda assim, as evidências precisam ser interpretadas com cautela, pois os resultados variam conforme a metodologia dos estudos.
Considerações Clínicas
A perda de grandes volumes de gordura exige cuidados especiais para prevenir alterações hematológicas, como anemia.
Além disso, a retirada excessiva pode impactar negativamente a distribuição de gordura e até aumentar a gordura visceral se não houver controle pós-operatório adequado.
O Conselho Federal de Medicina recomenda que o volume máximo aspirado não ultrapasse 7% do peso corporal, reforçando, portanto, a importância da individualização do planejamento cirúrgico.
Assim também, o acompanhamento multidisciplinar após a cirurgia contribui para otimizar os resultados estéticos e metabólicos.
Conclusão
A lipoaspiração, além de remodelar o contorno corporal, pode trazer benefícios metabólicos para alguns pacientes, como melhora da sensibilidade à insulina e redução de marcadores inflamatórios. Entretanto, os resultados são variáveis, e ainda faltam estudos padronizados que confirmem essas tendências de forma definitiva.
Por fim, a segurança e os benefícios metabólicos da lipoaspiração dependem de vários fatores, como a técnica utilizada, o volume aspirado, a condição clínica prévia do paciente e o acompanhamento pós-operatório adequado.
Fonte:
- Pintarelli, G., Gomes, R.S., Rocha, J.D. (2014). Lipoaspiração: atualização dos fatores de riscos metabólicos e sua importância clínico-cirúrgica. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, 29(3), 457-467. Disponível em: https://doi.org/10.5935/2177-1235.2014RBCP0082