O preenchimento com hidroxiapatita de cálcio (CaHA) tem ganhado popularidade como opção semipermanente para rejuvenescimento e volumização facial. No artigo-revisão publicado na Clinical Interventions in Aging (vol. 3, n. 1, 2008), Patricio F. Jacovella faz uma avaliação abrangente do Radiesse®, abordando propriedades físico-químicas, indicações médicas, técnicas de aplicação, durabilidade e perfil de segurança. A seguir, apresentamos os principais destaques e conclusões do trabalho, em linguagem acessível ao público de dermatologia estética.
Artigo Completo
1. Contextualização: evolução dos Preenchedores
Primeiramente, o autor relembra que a busca por restaurar o volume perdido com o envelhecimento levou ao desenvolvimento dos preenchedores dérmicos modernos. Ainda que enxerto de gordura e silicone líquido tenham sido usados no passado, questões de imprevisibilidade ou efeitos adversos motivaram a procura por materiais mais biocompatíveis e duráveis. Assim, Radiesse® surge como um Preenchedor sintéticolong-lasting, posicionado entre as opções temporárias (ácido hialurônico) e as permanentes (PMMA, silicone).
2. Composição e mecanismo de ação
Radiesse® é um implante semissólido composto por microesferas de CaHA (25–45 µm) suspensas em gel de carboximetilcelulose. Após a injeção, o gel se degrada em 2–3 meses, enquanto as microesferas atuam como arcabouço para fibroblastos e neocolagênese. Posteriormente, o CaHA é lentamente fagocitado, reproduzindo o metabolismo do tecido ósseo; por isso, não há risco relevante de calcificação ectópica.
3. Classificação ideal de um Preenchedor
Jacovella ressalta que um preenchedor ideal deve oferecer:
- Longevidade previsível (12–18 meses, em média);
- Biocompatibilidade sem imunogenicidade;
- Baixa migração e estabilidade tridimensional;
- Índice reduzido de efeitos adversos;
- Custo-benefício aceitável para paciente e profissional.
Segundo o autor, CaHA atende bem a esses critérios, principalmente em áreas que requerem sustentação profunda.
4. Indicações estéticas e médicas
Embora aprovado pelo FDA para correção de sulcos moderados a profundos e lipoatrofia facial associada ao HIV, o preenchedor pode ser usado em múltiplas regiões:
- Linhas glabelares estáticas;
- Sustentação de supercílio, malar e sulco lacrimal;
- Suavização de sulcos nasogenianos, linhas de marionete e comissuras orais;
- Projeção de ponta nasal ou ângulo nasolabial;
- Contorno de mandíbula e mento;
- Cicatrizes deprimidas (acne).
Além da dermatologia estética, relatam-se aplicações em reconstrução de aréola mamária, incontinência urinária de esforço e disfonia paralítica, entre outras.
5. Técnicas de anestesia e injeção
O autor dedica largo espaço às abordagens práticas. As principais recomendações incluem:
- Anestesia tópica, infiltrativa ou bloqueios nervosos (supra-orbitário, infra-orbitário e mentoniano) conforme a área;
- Plano de depósito profundo (derme profunda ou subcutâneo), evitando injeção intradérmica superficial- o que pode gerar pápulas brancas;
- Métodos de deposição linear threading, serial puncture, fanning ou cross-hatching, modulado pela topografia facial;
- Modelagem imediata com pinça digital para uniformizar o implante;
- Volumetria conservadora na primeira sessão e revisão após quatro semanas para retoque, se necessário.
6. Durabilidade e satisfação
Os efeitos clínicos mantêm-se estáveis por 12–18 meses; contudo, há relatos de resultados perceptíveis até 24 meses quando reforçados com retoque anual parcial. Em estudos citados, 80–90 % dos pacientes avaliaram o resultado como “muito bom” ou “excelente”, sobretudo em sulcos nasogenianos e contorno malar.
7. Perfil de segurança
Por ser biocerâmico e de composição semelhante ao mineral ósseo, CaHA apresenta baixíssima antigenicidade. As intercorrências descritas foram em geral leves e autolimitadas: edema transitório, equimose (≈ 5 %), eritema e sensibilidade local. Complicações tardias, como nódulos ou pseudogranulomas, estão ligadas a técnica inadequada—especialmente excesso de volume em lábios. Quando ocorrem, respondem a infiltração de corticosteroide ou excisão pontual. Não houve registros de necrose ou reações sistêmicas.
8. Radiesse® versus outros preenchedores
Comparado ao ácido hialurônico (duração ≈ 6–9 meses), Radiesse® oferece maior longevidade e melhor custo anual, embora exija destreza para evitar nódulos. Frente aos polímeros permanentes, traz vantagem de não induzir fibrose exuberante nem deformidades irreversíveis, já que se degrada gradualmente. Desse modo, posiciona-se como solução intermediária entre naturalidade, durabilidade e segurança.
9. Associações terapêuticas
Jacovella destaca o uso sinérgico de CaHA com toxina botulínica (controle de rugas dinâmicas), laser / peelings (textura cutânea) e radiofrequência (firmeza dérmica). Sequenciar corretamente os procedimentos—BTX antes, laser antes, CaHA depois—maximiza o resultado global.
10. Conclusões do autor
- Efetividade: Radiesse® é eficaz para restauração volumétrica facial moderada a profunda.
- Biocompatibilidade: estudos clínico-histológicos demonstram resposta inflamatória mínima e ausência de migração.
- Baixo índice de complicações: quando aplicado na profundidade correta por profissional experiente.
- Durabilidade satisfatória: 12–18 meses, com eventual manutenção anuai.
- Versatilidade: amplo leque de indicações estéticas e reconstrutivas.
11. Implicações para a prática dermatológica
Para o dermatologista que busca preencher a lacuna entre Àcido Hialurônico e PMMA, CaHA representa uma alternativa versátil, especialmente em pacientes que desejam intervenção com bom custo-benefício, resultado natural e relativa longa duração. Entretanto, o sucesso depende de seleção criteriosa do paciente, domínio anatômico e técnica meticulosa. Treinamento prático e entendimento do perfil de reabsorção do material são cruciais para minimizar eventos adversos.
Referência bibliográfica
Jacovella PF. Use of calcium hydroxylapatite (Radiesse®) for facial augmentation. Clinical Interventions in Aging. 2008;3(1):161-174. doi:10.2147/CIA.S2001
