O bruxismo é um distúrbio cada vez mais comum, que afeta tanto a saúde bucal quanto o bem-estar geral. Além de causar desgaste dentário, o hábito de ranger os dentes pode desencadear dores musculares, cefaleias, distúrbios do sono e limitações funcionais.
Diante disso, os pesquisadores investigaram uma abordagem inovadora: o uso da toxina botulínica tipo A (BTX-A). Este post resume os principais achados do artigo científico publicado na Research, Society and Development sobre a eficácia dessa técnica.
1. O que é bruxismo e por que tratá-lo?
Antes de mais nada, é fundamental compreender o conceito. O bruxismo se caracteriza pelo ato de ranger ou apertar os dentes de forma inconsciente. Isso pode ocorrer tanto durante o dia quanto à noite, sendo classificado como vigília ou bruxismo do sono.
De acordo com os autores, essa condição está relacionada a fatores diversos, como estresse emocional, distúrbios do sono, uso de drogas, alterações neurológicas e problemas na oclusão dental.
Portanto, não se trata apenas de um mau hábito. Pelo contrário: é um distúrbio multifatorial que requer atenção especializada.
2. Como a toxina botulínica atua nesses casos?
A BTX-A age diretamente nas junções neuromusculares. Ou seja, bloqueia temporariamente a liberação de acetilcolina, impedindo que os músculos da mastigação recebam estímulos excessivos.
Dessa forma, o músculo relaxa, o que reduz consideravelmente a força exercida durante os episódios de bruxismo. Como resultado, ocorre alívio da dor, redução da sobrecarga muscular e melhora funcional.
3. Quais são os benefícios observados?
Os estudos revisados mostram uma série de benefícios relevantes. Entre os principais, destacam-se:
- Redução na frequência dos episódios de bruxismo;
- Melhora da dor orofacial e das disfunções associadas à DTM;
- Aumento da qualidade de vida, especialmente no sono e mastigação;
- Satisfação clínica por parte dos pacientes atendidos.
Além disso, os autores ressaltam que a técnica apresenta menor taxa de recidiva quando comparada a tratamentos convencionais, como o uso de placas intraorais.
4. Como o procedimento é realizado?
Em geral, o tratamento é simples e bem tolerado. O profissional identifica os pontos de maior tensão muscular — especialmente os músculos masseter e temporal — e realiza a aplicação local da toxina.
As doses variam entre 14 a 100 unidades por lado, dependendo da gravidade do quadro. Logo após a aplicação, os efeitos começam a ser notados em poucos dias, atingindo o pico em torno da 2ª semana.
Os resultados costumam durar entre 12 a 19 semanas, o que significa que o paciente poderá precisar de reaplicações a cada 4 a 6 meses, conforme a resposta individual.
5. É um procedimento seguro?
Sim. De acordo com os dados apresentados na revisão, a toxina botulínica possui um excelente perfil de segurança. Os efeitos colaterais, quando ocorrem, são geralmente leves e transitórios.
Entre os eventos mais comuns, estão:
- Dor leve no local da aplicação;
- Pequena assimetria facial temporária;
- Casos raros de leve dificuldade para mastigar ou engolir.
Ainda assim, o uso deve ser contraindicado em pacientes gestantes, lactantes e com doenças neuromusculares.
6. Quando considerar esse tipo de tratamento?
Embora a toxina botulínica não seja a primeira escolha em todos os casos, ela pode ser extremamente útil em situações específicas. Entre as principais indicações, destacam-se:
- Bruxismo severo ou resistente às terapias tradicionais;
- Hipertrofia dos músculos mastigatórios;
- Dor facial intensa e recorrente;
- Intolerância ao uso de placas oclusais;
- Comprometimento funcional importante.
Portanto, o tratamento com BTX-A deve fazer parte de uma abordagem individualizada, sempre com acompanhamento especializado.
7. Considerações finais
O artigo revisado oferece uma visão abrangente sobre o papel da toxina botulínica no tratamento do bruxismo. Os resultados observados reforçam sua eficácia, segurança e impacto positivo na qualidade de vida dos pacientes.
Contudo, é essencial lembrar que o procedimento deve ser conduzido por profissionais capacitados, com conhecimento anatômico e clínico adequado. Além disso, o acompanhamento contínuo garante melhores resultados e evita possíveis intercorrências.
Em resumo, a toxina botulínica surge como uma aliada poderosa no manejo de um problema que vai muito além da estética ou do ruído noturno. Com técnica e critério, ela pode transformar a experiência de quem sofre com bruxismo.
Referência do artigo resumido
Cunha FR, Borba DBM, Oliveira RCG, Oliveira RC, Valarelli FP, Freitas KMS, Cotrin P.
Utilização da toxina botulínica no tratamento do bruxismo. Research, Society and Development, 11(4): e34011427304, 2022.
https://doi.org/10.33448/rsd-v11i4.27304