O nevo melanocítico congênito é uma condição relativamente comum quando de pequeno ou médio porte. Entretanto, quando classificado como gigante — com mais de 20 cm de diâmetro —, torna-se uma entidade rara, com potencial elevado para malignização, especialmente na infância.
O artigo “Tratamento cirúrgico do nevo melanocítico gigante”, publicado na Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, discute as estratégias cirúrgicas empregadas para o tratamento dessa condição.
O estudo completo pode ser acessado neste link.
Introdução
O nevo melanocítico gigante (NMG) está presente em cerca de 1 em cada 20.000 nascimentos.
Essas lesões representam um risco maior para o desenvolvimento de melanoma, sobretudo na infância, sendo que até 60% dos casos de transformação maligna ocorrem antes dos 10 anos.
Além disso, o NMG impacta o aspecto estético e funcional da pele, exigindo tratamento precoce e bem planejado.
Estratégias Cirúrgicas
O estudo descreve a experiência com 11 pacientes, utilizando diferentes abordagens, escolhidas de acordo com:
- Extensão e localização da lesão
- Idade do paciente
- Aspecto clínico do nevo
- Necessidade de preservar função e estética
As técnicas utilizadas foram:
1. Ressecção Parcial Intralesional
Indicada para áreas com alterações clínicas sugestivas de malignidade. Assim sendo, envolve a remoção de porções da lesão com margem de segurança e análise histopatológica.
Técnica segura para todas as idades.
2. Ressecção com Enxertia de Pele
Indicada para grandes áreas ou regiões flexoras (pálpebras, dobras articulares). Com efeito, utiliza enxertos de pele total para manter a funcionalidade e reduzir o risco de retrações.
3. Expansão Tecidual e Retalhos
Implante de expansores subcutâneos para gerar pele suficiente para cobrir a área do nevo após a ressecção. Portanto, essa técnica é indicada para crianças maiores de 6 anos e adultos.
Evita deformidades funcionais importantes.
4. Combinação de Técnicas
Em casos complexos, a combinação de expansores, enxertos e ressecções parciais permitiu a remoção de grandes extensões do nevo. Dessa maneira, a estratégia oferece melhores resultados estéticos e maior remoção da lesão.
Resultados
Distribuição dos tratamentos:
- Ressecção parcial isolada: 36,36% dos casos
- Ressecção + enxertia: 18,19%
- Expansores isoladamente: 9,09%
- Técnicas combinadas: 36,36%
Complicações observadas:
- Seroma
- Hematoma
- Deiscência de sutura
Apesar disso, todos os pacientes evoluíram bem, e o tratamento cirúrgico permitiu controle adequado da condição.
Discussão
A excisão profilática dos nevos gigantes é recomendada devido ao risco elevado de melanoma. Ademais, o tratamento deve ser individualizado, levando em conta o potencial de malignização, a localização da lesão e o impacto funcional.
Embora técnicas menos invasivas, como dermoabrasão e laser, tenham sido propostas, apenas a cirurgia demonstrou reduzir efetivamente o risco de melanoma a longo prazo.
Ainda assim, o planejamento cirúrgico deve sempre buscar preservar a função, principalmente em áreas críticas como olhos e boca.
Conclusão
O tratamento do nevo melanocítico gigante é eminentemente cirúrgico e deve ser iniciado o mais cedo possível. De fato, a combinação de técnicas — ressecção parcial, enxertia de pele e retalhos com expansão tecidual — representa a abordagem mais eficaz para a remoção completa ou substancial da lesão, garantindo melhores resultados estéticos e reduzindo o risco de malignização.
Por fim, o acompanhamento clínico periódico ao longo da vida permanece fundamental, mesmo após o tratamento cirúrgico.
Fonte:
- Carneiro Junior, L.V.F., Aguiar, L.F.S., Pitanguy, I. (2011). Tratamento cirúrgico do nevo melanocítico gigante. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, 26(2), 198–204. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbcp/a/Qs3KgSG5YQNYXPWpjdbshWC/?format=pdf&lang=pt