O xantelasma palpebral é o xantoma cutâneo mais frequente, afetando cerca de 1,4 % da população, com predomínio em mulheres entre 30 e 50 anos. Apesar de benigno e sem repercussões funcionais diretas, o acúmulo de placas amareladas na região periocular causa importante desconforto estético e psicológico. O manejo inclui abordagens clínicas (laser, ácido tricloroacético, radiofrequência, crioterapia ou agentes hipolipemiantes); no entanto, nenhuma delas apresenta resultados consistentes e taxas de recidiva tão baixas quanto a excisão cirúrgica.
Veja o artigo completo
Objetivo do estudo
O objetivo foi avaliar, em série retrospectiva, a segurança, a efetividade e o grau de satisfação de pacientes submetidos à excisão cirúrgica de xantelasmas. Além disso, buscou-se mensurar a taxa de recorrência após 12 meses.
Metodologia
O estudo contou com 25 pacientes operados entre 2016 e 2019. Todos foram tratados em centros de referência, incluindo o Hospital Universitário da UFJF e uma clínica privada. Inicialmente, os pacientes passaram por avaliação clínica e exames laboratoriais, a fim de excluir comorbidades não tratadas, como dislipidemias.
As lesões foram removidas cirurgicamente com anestesia local e sedação leve. Em casos de perda extensa de pele, foi necessária a realização de autoenxerto dermoepidérmico. As áreas doadoras incluíram, principalmente, a pálpebra superior (quando saudável) ou a região retroauricular. O acompanhamento foi feito em quatro momentos: 7, 30 e 90 dias, além de uma avaliação final após 12 meses.
Desenho: estudo retrospectivo aprovado pelo CEP (CAAE 24710119.3.0000.5133).
Amostra: 25 pacientes operados entre 2016-2019 no Hospital Universitário da UFJF e na Clínica Plastic Center.
Procedimento: as lesões foram ressecadas sob sedação e anestesia local. Quando a pele residual era insuficiente, realizou-se autoenxertia de pele total (retirada da pálpebra superior livre de lesão ou da região retroauricular).
Seguimento: foram realizadas avaliações aos 7, 30 e 90 dias e aos 12 meses, com exame físico, fotografias padronizadas e questionário sobre complicações, recidiva e satisfação estética.
Principais resultados
Indicador | Achado |
---|---|
Perfil dos pacientes | 88 % mulheres; idade entre 37 e 69 anos (média 52,6) |
Distribuição das lesões | 56 % só pálpebra superior, 20 % só inferior, 24 % ambas |
Autoenxertia | 2 pacientes com lesões extensas em pálpebra inferior |
Recorrência global | 4/25 (16 %); todas mulheres; nenhuma no grupo com enxerto |
Complicações significativas | Não houve ectrópio, necrose ou infecção; hiperpigmentação e retração ausentes |
Satisfação estética | 92 % satisfeitos; insatisfação restrita às duas pacientes com recidiva |
Discussão crítica
Taxa de recidiva inferior: os 16 % de recidiva após um ano são menores que os 40 % descritos em séries clássicas (Mayo Clinic), bem como as taxas de 26 % no primeiro ano relatadas em literatura histórica. Por conseguinte, o resultado aproxima-se de estudos mais recentes que sugerem melhores desfechos quando a técnica é padronizada.
Vantagem da autoenxertia: mesmo em lesões extensas, o enxerto dermoepidérmico palpebral ou retroauricular resultou em cicatrização estética estável e zero recidiva. Com isso, os achados corroboram relatos que apontam essa manobra como opção segura para quadros grau III-IV.
Limitações das terapias não cirúrgicas: CO₂ ultrapulsado, TCA, laser de díodo ou anticorpos monoclonais (alirocumabe) apresentam custo elevado e dependem de múltiplas sessões. Além disso, podem causar discromias e retrações, exibindo recidivas de até 60 %. Dessa forma, reservam-se a casos restritos ou complementares.
Avaliação metabólica obrigatória: a associação com dislipidemias primárias ou secundárias (hipotireoidismo, diabetes), por sua vez, reforça a necessidade de triagem lipidêmica. Portanto, o controle dos perfis lipídicos pode reduzir novas formações.
Implicações para a prática dermatológica
A excisão simples, isolada ou combinada a blefaroplastia, permanece como tratamento de escolha para a maioria dos xantelasmas. Isso é especialmente válido inclusive em serviços públicos e de ensino, pela rapidez, baixo custo e curva de aprendizagem curta.
Para lesões muito extensas ou recidivadas, a inclusão de autoenxertia de pele total melhora a cobertura e reduz retrações, sem elevar as complicações.
Além disso, protocolar um seguimento mínimo anual permite detectar recidivas precoces. Ainda assim, os pacientes raramente consideram o retorno da lesão um fracasso, caso o benefício estético inicial tenha sido marcante.
Por fim, a abordagem multidisciplinar (cirurgião plástico, dermatologista, endocrinologista) maximiza o resultado estético e controla fatores de risco sistêmicos.
Conclusão
O estudo reforça que a cirurgia, quando bem indicada e tecnicamente executada, combina: simplicidade, reprodutibilidade, baixos índices de complicação, satisfação superior a 90 % e recidiva limitada a 16 %. Portanto, frente ao impacto cosmético e emocional do xantelasma palpebral, esses dados sustentam a excisão como primeira linha terapêutica, com considerável vantagem sobre métodos exclusivamente clínicos ou ablativos.
Dornelas MT, Pedrosa NV, Dornelas GV, Chaoubah A, Fernandes AS, Carvalho EL, Dornelas LV, Belgo TRR. Xantelasma palpebral: tratamento cirúrgico como primeira escolha. Rev. Bras. Cir. Plást. 2022;37(4):498-504. doi: 10.5935/2177-1235.2022RBCP.601-pt.